Indignada com um fato ocorrido no último sábado (23) em um conhecido hipermercardo de Petrolina, a leitora Rozani Alves Costa enviou um e-mail ao Blog relatando o episódio, o qual ela atribui a puro “preconceito” por parte de funcionários do estabelecimento.
Confiram:
Vivi ontem, dia 23/02/2013, um fato que me deixou indignada, uma atitude de desrespeito, ignorância e má preparação profissional dos funcionários e da equipe do supermercado Hiper Bompreço, localizado no River Shopping. A pessoa ofendida não fui eu, mas a natureza do problema e a minha interação com o ocorrido não me permitem ficar calada diante desse absurdo.
Estava com minha filha ontem e realizamos uma compra de alguns itens de alimentação e limpeza para nossa residência. Enquanto aguardávamos na fila, fomos abordadas por um jovem de aparência humilde com aproximadamente 15 anos, que com educação, descrição e um certo receio, me pediu que lhe comprasse um pacote de feijão.
Isso mesmo, um simples pacote de feijão. Não me pediu dinheiro, não me pediu futilidades, não fez apelos, nem veio com frases prontas apelativas, apenas pediu um pacote de feijão. Disse, inclusive, que iria buscar para que eu não tivesse que deixar a fila. Eu o encarei por alguns instantes e enxerguei fome, desespero, medo, humildade, enxerguei uma pessoa vítima de uma sociedade que no auge de sua ausência de perspectiva recorreu a um estranho para lhe prover o que um sistema público eficiente deveria assegurar a todos.
Eu concordei e ele agiu prontamente. Foi até o corredor, buscou o feijão e retornou rapidamente, nem sequer escolheu um dos tipos mais caros ou de marcas mais consagradas, pegou um modelo simples, tradicional, tipo aquele que nossa mãe manda comprar quando não temos muito dinheiro. Sei porque passei por isso na minha infância.
Foi o primeiro item a passar na minha lista, como demonstra o comprovante que demonstro acima. Tão logo foi feito o registro a empacotadora colocou o produto numa sacola e o entregou ao garoto.
Quando se encerrou o registro das minhas compras, às 15h32, realizei o pagamento, e enquanto terminávamos o empacotamento, vi a moça que me auxiliava no caixa interceder numa situação um pouco distante, dizendo: “não façam isso, foi a moça aqui que pagou o feijão dele”. Prontamente me atentei para o ocorrido e então percebi o absurdo: quando tentava sair do supermercado, pelo corredor de caixas, com o item na sacola, o segurança lhe tomou o produto, mandou que uma funcionária devolvesse à prateleira e o tangiam como quem tenta afastar um bicho ameaçador. Uma senhora que estava na minha frente, na fila do caixa, tentava explicar o ocorrido, mas não era ouvida pelos funcionários grosseiros e intolerantes. Enquanto isso o pobre garoto se silenciava diante do constrangimento, acuado num canto sem saber o que fazer ou para onde ir.
Dei de encontro com a funcionária que retornava com o feijão e imediatamente ordenei, sim, ordenei aos gritos, que a mesma retornasse imediatamente e devolvesse o produto ao rapaz, pois eu havia realizado o pagamento.
E assim começou a confusão e a sucessão de absurdos que só pioraram a situação. A moça devolveu o produto ao rapaz, e o mesmo rapidamente se foi sem que percebêssemos ou que um pedido adequado de desculpas lhe fosse ofertado. O segurança informou que a medida fora tomada porque ele estava sem o recibo, porque estava importunando os demais clientes e porque estava andando pela loja com produtos na mão há algum tempo com aparência suspeita.
Ora, nada disso justifica a conduta. Primeiramente, não encontraram nada escondido no rapaz. Quanto ao recibo, não lhe deram a chance de explicar que eu havia pago, não procuraram explicações e nem me questionaram, antes de tomar medidas mais radicais. Ora, o produto estava em uma sacola e o garoto saía do corredor de caixas. Tudo isso são indícios de que o pagamento havia sido realizado, por quem quer que fosse, mas nada disso foi levado em conta. O interessante é que frequento aquele estabelecimento há anos e nunca me pediram para verificar um produto sequer, nunca tive minha nota solicitada. Nunca, assim como muitos outros, acredito eu.
Outro funcionário logo se aproximou ao ver a confusão e informou que esse era o procedimento padrão. Mas que padrão é esse para se adotar?! Então, com meu carrinho cheio de mercadorias sugeri que, em cumprimento ao procedimento padrão, o mesmo verificasse item por item na nota se eu também não estaria subtraindo nada, pois saí do mesmo corredor que o garoto sem apresentar recibo, mas o mesmo informou que isso não seria preciso, pois eu “era diferente”.
“Diferente”. Um conceito meio complexo, já que acredito que sejamos todos diferentes, mas a minha falta de ingenuidade me fez concluir exatamente o que ele quis dizer. Então solicitei que explicasse claramente, mas adverti-lo de que isso era discriminação, preconceito e até mesmo crime, acredito eu. Então ele ficou sem palavras, não soube mais o que dizer, não tinha mais o que dizer, enquanto nós, que demos uma voz àquele menino, esbravejávamos indignadas e um público já bastante grande, atento ao que era dito, questionava.
Aumentando a bola de neve que a situação se tornou, me disseram que se eu desejasse fazer isso novamente, deveria entregar a mercadoria fora do supermercado. Cada vez mais revoltada informei que o que faço com minhas mercadorias não era problema de nenhum deles, se quisesse eu poderia simplesmente derramar tudo ali, largado, e ir embora, porque diferentemente daquele menino, eu pude pagar por aquelas compras, e depois que passei daquele caixa tudo era meu, não sendo mais da conta de nenhum deles o que faço com meus produtos ou a quem entrego cada um deles. Nem dentro, nem fora do supermercado.
Em mais uma tentativa frustrada de justificação, me disseram que eu não estava ajudando o rapaz, pois ele provavelmente venderia o feijão para comprar drogas. Acreditem, sim, me disseram isso, ali, descaradamente, na frente de todo mundo. Os profissionais, supostamente sérios e preparados para assegurar a segurança do estabelecimento, para lidar com consumidores, para solucionar crises em um estabelecimento comercial de grande porte. É triste, mas eles fizeram isso.
Gente estúpida, mal preparada, de mente fechada, preconceituosos, julgando por estereótipos, tacham o rapaz de bandido, tomaram-lhe o produto. Eles, sim, é quem me perturbam e me incomodam, não aquele menino que precisava de ajuda, que pediu ajuda. Se bem que eles também precisam de ajuda, precisam urgentemente aprender como se trata uma pessoa com respeito, porque todos merecem respeito, Todos!!!
Seguranças, supervisores, responsáveis pela administração, todos tentado justificar o injustificável. Mas a explicação é simples: discriminaram, tacharam, suspeitaram, acusaram e condenaram o rapaz sem uma chance de explicações ou defesa.
Não porque o mesmo tenha agido errado, não porque estivesse sem o recibo, mas porque era simples, humilde, estava mal vestido, um tanto quanto sujo, pedindo ajuda, estava receoso de ser expulso, se esquivando e depois de tantos nãos, procurava um ser humano que lhe ofertasse um pouco de solidariedade. Mas acreditaram que ele não poderia ter pago um pacote de feijão que custou R$ 4,56 (quatro reais e cinquenta e seis centavos), e antes de apurar o ocorrido com responsabilidade, foram totalitários e intolerantes. Todo esse absurdo por causa de um produto desse valor!
Esse estabelecimento e esses funcionários incompetentes que não souberam lidar com a situação são uma vergonha para nossa comunidade, ou até mesmo para toda a raça humana.
Rozani Alves Costa/Leitora
Blog do Carlos Britto
Enquanto acharem que somos "diferentes" apenas pela aparencia,infelizmente, sempre haverá injustiça como essa. Parabéns para essa senhora q alem do ato da solidariedade, teve senso de justiça em defender o menino, que não lhe deram a mìnima chance de defesa.Belo exemplo a ser seguido!
ResponderExcluirIsso mostra a realidade do nosso país, onde o lema já foi "Brasil, um país de todos".
ResponderExcluirIsso mostra a realidade do nosso país, onde o lema já foi "Brasil, um país de todos".
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